Saturday, 31 October 2009

Monachus monachus



Finalmente consegui fotografar a outra espécie que empresta o nome a este blog – o Lobo-marinho. Só o consegui porque estive a trabalhar como voluntário durante duas semanas nas Ilhas Desertas, onde habitam pouco mais de 30 focas. Há muito que esperava pela oportunidade de ver estes esquivos animais e o primeiro encontro superou em muito as expectativas.
Deixo-vos aqui um artigo que publiquei sobre a espécie na revista Liberne, da Liga para a Protecção da Natureza.

"Com um efectivo populacional que não ascende os 400 indivíduos, a Foca-monge do Mediterrâneo (Monachus monachus), ou lobo marinho como é conhecido no território nacional, é a foca mais rara do planeta e um dos mamíferos mais ameaçados de extinção.
A sua área de distribuição histórica abrangia toda a região da bacia mediterrânica, o Mar Negro, a costa Noroeste Africana e ainda os arquipélagos das Canárias, Açores e Madeira. No entanto, a intensa perseguição a que a espécie foi alvo levou a um declínio acentuado da maioria das suas populações e reduziu a sua área de distribuição ao Mar Egeu, ao Norte de Marrocos e Argélia, e duas populações no Atlântico, mais propriamente no Cabo Blanco, na Mauritânia, onde reside a maior colónia com cerca de 150 membros e nas Ilhas Desertas, no Arquipélago da Madeira, onde se estimam existir cerca de 35 animais.
Históricamente, o desaparecimento da espécie de maior parte da sua área de distribuição ter-se-á devido à perseguição para aproveitamento da pele e da gordura. No entanto, o maior factor de declínio da espécie nos tempos mais recentes terá sido a perseguição directa por parte de pescadores, que consideram as focas daninhas para as pescas, tanto pela competição pelos recursos, como pela danificação de material de pesca. As capturas acidentais e a sobrepesca, que priva os lobos marinhos dos seus recursos alimentares, são ainda outros dois factores de extremo peso no decréscimo da espécie.
A elevada sensibilidade dos lobos marinhos à actividade humana faz com que a ocupação da orla costeira e o turismo de massas tenham consequências extremamente negativas para a espécie. Outras ameaças ao futuro destas focas incluem, doenças, colapso de grutas, derrame de petróleo, marés vermelhas ou quaisquer outros eventos estocásticos. Em 1997, por exemplo, 2/3 das focas pertencentes à maior população mundial da espécie, localizada em Cabo Blanco, na Mauritânia, morreram de forma inesperada, sendo que as razões mais prováveis para esta mortalidade em massa teram sido uma maré vermelha ou uma epidemia causa por um vírus. Outro factor que poderá constituir uma séria ameaça para o futuro da espécie advém da fragmentação e da pequena dimensão das suas populações, o que poderá conduzir à depressão endógamica.
A conservação desta espécie no Arquipélago da Madeira encontra-se a cargo do Parque Natural da Madeira (PNM), que em 1990 criou a Área de Protecção Especial das Ilhas Desertas, com vista à protecção do habitat das últimas 6 a 8 focas que sobreviviam em território nacional. As ilhas passaram a Reserva Natural no ano de 1995 e estão também classificadas como Reserva Biogenética pelo Concelho da Europa desde 1992 .
A estratégia de perturbação miníma adoptada pelo PNM têm nutrido os seus frutos e actualmente a população madeirense é uma das poucas com uma tendência populacional positiva. Como consequência disso as incursões de lobos marinhos ao litoral madeirense têm-se tornado cada vez mais frequentes e os relatos de observações a repetirem-se um pouco por toda a ilha. Recentemente foi mesmo confirmada a existência de lobos marinhos residentes na ilha da Madeira.
O desafio para a salvaguarda desta espécie passa agora por aprender a conviver com estes raros animais. A sua elevada dimensão e curiosidade podem levar a que magoem alguém de forma inadevertida. Como tal, o melhor a fazer aquando da observação de um lobo marinho seja manter a distância, tentando não o perturbar e reportar a observação ao PNM. Isto permitirá aprofundar os conhecimentos sobre a espécie e abrir caminho para medidas de protecção mais adequadas e eficazes." in Liberne.